A Águia Italiana Pousa no Coração de Cáceres: A História do Hidroavião Santa Maria em 1927
- rota cacerense
- 8 de out.
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Em 1927, Cáceres (MT) viveu um de seus momentos mais notáveis, um evento que rasgou o céu do Mato Grosso e estabeleceu um marco na história da aviação local: o pouso do hidroavião italiano Santa Maria. Este não foi um voo comum; foi parte do lendário "Reide das Duas Américas", uma épica travessia aérea que ligava a Europa às Américas do Norte e do Sul, comandada pelo intrépido aviador italiano Marquês Francesco de Pinedo.
A passagem do Santa Maria não apenas inspirou os cacerenses, mas também sublinhou a importância estratégica do Rio Paraguai, que serviu como a primeira "pista de pouso" para uma aeronave na região, anos antes da construção do primeiro aeródromo em 1936.
O Telegrama que Anunciou o Espetáculo
O Intendente-Geral do Município de Cáceres na época, Dr. Leopoldo Ambrósio Filho, foi o responsável por garantir as condições necessárias para a recepção da comitiva italiana. O anúncio oficial veio por meio de um telegrama do General Rondon, conforme registrado no livro Efemérides Cacerenses - Vol I (1992), de Natalino Ferreira Mendes:
"Cambuquira n° 66 – Para vosso governo informo ter sido essa cidade escolhida pelo Marquez De Pinedo para um dos pontos parada para seu itinerário através território Mato Grosso para Manaus. O glorioso As dos Ases italiano pretende baixar e aterrisar nesse porto do dia 12. Providenciai sentido poder este receber o avião Santa Maria nas melhores condições possíveis. Sds. General Rondon."
A Chegada do "Heróico Aviador Italiano"
A chegada, no entanto, ocorreu no dia 16 de março de 1927, e foi descrita pelo próprio Dr. Leopoldo Ambrósio Filho em seu relatório daquele ano como um espetáculo inesquecível:
"Na tarde de 16 de março do corrente ano, a uma hora mais ou menos, foi dado aos habitantes desta cidade contemplar um sublime e nunca visto espetáculo — a chegada de um hidroavião. E este era o Santa Maria, a valente águia de De Pinedo, heróico aviador italiano, ás dos Ases, que com dois companheiros, vinha fazendo um raid através dos cinco continentes, feito heróico que assombrou o mundo."
O hidroavião, um Savoia-Marchetti SM-55, flutuou majestosamente sobre as águas do Rio Paraguai, trazendo De Pinedo e seus companheiros, Carlo Del Prete e Vitale Zachetti.
"Durante dois dias Cáceres teve a fortuna de hospedar (ilegível) gente a esta Intendência cumulou-os de gentilezas hospedando-os condignamente no suntuoso palacete de residência do Sr. José Bonifácio Pinto de Arruda."
A passagem da comitiva foi tão marcante que, para eternizar o evento, a Câmara Municipal de Cáceres deu à antiga rua do Alegre a denominação de "Marquês de Pinedo".
Um Raide de Duas Américas e Duas Aeronaves

É importante notar que o Santa Maria que pousou em Cáceres era o mesmo que havia partido da Itália, mas que seria tragicamente destruído por um incêndio pouco tempo depois, em 6 de abril de 1927, enquanto reabastecia no Lago Roosevelt, no Arizona (EUA). Para concluir o Reide das Duas Américas, um novo aparelho foi enviado da Itália, batizado de Santa Maria II. A aeronave que passou por Mato Grosso foi o primeiro a sobrevoar a região e ficará para sempre na memória cacerense.
O pouso do hidroavião é um dos fatos mais emblemáticos de 1927 em Cáceres, um ano de contrastes, que também viu a passagem da Coluna Prestes por seus arredores. A aviação, ainda que incipiente, apontava para um futuro de maior conexão e desenvolvimento, que mais tarde ajudaria até mesmo na comercialização de produtos locais, como a poaia.
O feito do Marquês de Pinedo e seu Santa Maria é um poderoso lembrete de como Cáceres, com o seu majestoso Rio Paraguai, esteve ligada aos grandes feitos da aviação mundial.








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