As Danças de Cáceres-MT: Cultura, Fé e Tradição
- rota cacerense
- 19 de ago.
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Cáceres, às margens do Rio Paraguai, não é apenas reconhecida por sua beleza natural e

por ser um ponto de encontro entre Brasil e Bolívia. A cidade também é guardiã de tradições culturais seculares que resistem ao tempo, entre elas as danças populares que embalam festas religiosas, encontros comunitários e manifestações de fé.
Entre as mais marcantes estão o Cururu, o Siriri, a Dança de São Gonçalo e o Rasqueado Mato-grossense, todas profundamente enraizadas na identidade do povo cacerense.
O Cururu é uma dança tradicionalmente masculina, marcada pelo sapateado e versos improvisados ao som da viola de cocho e do ganzá. É, ao mesmo tempo, sagrado — por louvar santos — e profano, quando assume a forma de desafios cantados entre os cururueiros.
Já o Siriri se caracteriza pela alegria contagiante, reunindo homens, mulheres e crianças em rodas ou fileiras, acompanhados de coreografias vibrantes, roupas coloridas e o ritmo marcante da viola de cocho, ganzá e tamborim. Mais do que dança, é uma celebração da coletividade, da vida e da esperança.
A Dança de São Gonçalo, de forte cunho religioso, é considerada uma forma de devoção ao santo português protetor dos ossos e casamenteiro. Realizada em círculo, reúne fé e tradição em um ritual de alegria e louvor.
Por fim, o Rasqueado — mistura da polca paraguaia com ritmos locais — se tornou uma das expressões mais populares do Mato Grosso. Presente em festas e bailes, ele traduz a fronteira cultural que moldou a história de Cáceres.
Essas manifestações não são apenas entretenimento: elas revelam a alma cacerense. São encontros de gerações, onde os mais velhos transmitem saberes e valores, e os jovens dão continuidade ao legado cultural, garantindo que as tradições não se percam diante da modernidade.
Homenagem a Seo Lourenço da Viola de Cocho

Falar de dança e tradição em Cáceres é também recordar aqueles que foram guardiões da cultura. No dia 14 de fevereiro de 2025, a cidade se despediu de um de seus maiores ícones: Lourenço da Guia Ferreira Mendes, o inesquecível Seo Lourenço da Viola de Cocho, que faleceu aos 86 anos.
Seo Lourenço foi mestre artesão e cururueiro, dedicando mais de 70 anos à preservação da viola de cocho e da tradição do Cururu. Desde os 10 anos encantava-se com a música, e aos 17 já fabricava seus próprios instrumentos, utilizando madeiras como a chimbuva. Sua esperança era que o bisneto Lorenzo, ainda criança, desse continuidade a esse ofício que atravessou gerações.
Muito além de construtor de violas, Seo Lourenço era patrimônio vivo de Cáceres. Participava de festas de santos, levantava mastros, cantava e dançava, mantendo a chama da cultura acesa. Também construiu canoas artesanais, outro testemunho de sua habilidade e amor pelo trabalho manual.
Humilde, querido e respeitado, ele deixou filhos, netos e bisnetos, mas também deixou algo ainda maior: um legado cultural que nunca será apagado. Cáceres, o Pantanal e todo o Mato Grosso se curvam diante de sua memória.
Seo Lourenço nos lembra que a cultura popular é o coração pulsante de um povo. Sua voz, sua viola e sua história continuarão a ecoar nas festas, nas danças e na memória de quem ama Cáceres.
Referências
CAMPOS, Neide da Silva; PEREIRA, Maria Rita Silva; GRANDO, Beleni Saléte. As danças tradicionais como expressão da história e cultura local em Cáceres-MT. COEDUC/UNEMAT.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO. Projeto Arte no Campus – Grupo Guató: Cururu. Cáceres-MT.
PEREIRA, Sônia Gonçalina; RINALDI, Carlos. O Siriri: Uma manifestação cultural. Revista de Comunicação Científica, v. 5, n. 18, 2025.
FOLHA 5. Morre Seo Lourenço, mestre da viola de cocho. Disponível em: https://www.folha5.com.br/cidades/morre-seo-lourenco-mestre-da-viola-de-cocho/15205. Acesso em: 19 ago. 2025.








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