top of page
baa171e6-c75c-49fe-8015-0e37c8da3ba1.png
Buscar

As águas que contaram a história: as antigas viagens pelos rios de Cáceres


ree

Antes das estradas asfaltadas e das longas viagens de carro, foi pelas águas que Cáceres se ligou ao mundo. Às margens do majestoso rio Paraguai, a cidade — então chamada São Luiz de Cáceres — viveu intensamente uma época em que as vias fluviais eram o principal caminho de comunicação, transporte e progresso.


Os rios como estradas do interior


No início do século XX, os rios Paraguai, Jauru, Cabaçal e Sepotuba formavam uma verdadeira rede hidrográfica que ligava Cáceres a diversas regiões do país. Em 1922, quando o município participou da Exposição Nacional do Centenário da Independência do Brasil, o escritor João Campos Widal já destacava, em uma monografia sobre a região, a importância dessas águas para o desenvolvimento local.

O rio Paraguai, nascido nas Sete Lagoas, em Diamantino, era a principal via de transporte. Suas águas permitiam a navegação de embarcações a vapor, que cruzavam o Pantanal até chegar a Cáceres. Durante o período das cheias, navios com até seis pés de calado podiam alcançar o porto da cidade — um feito grandioso para a época.


Os vapores “Etrúria” e “Linda Haydée” eram alguns dos que faziam a rota entre Corumbá e Cáceres, transportando passageiros, mercadorias e histórias. As viagens duravam cerca de quatro dias subindo o rio e dois a três dias na descida, dependendo das condições das águas. Em tempos de seca, quando os vapores não conseguiam subir o rio, chatas, batelões e canoas garantiam o transporte de pessoas e produtos — símbolo da perseverança dos ribeirinhos cacerenses.


Uma aventura fluvial que parou a cidade



ree

Entre as histórias que marcaram esse período está a ousada viagem fluvial de São Paulo a Cáceres, realizada em 1926 pelos irmãos Luiz Senatore Neto e Antônio Senatore. Eles partiram da capital paulista com destino a Belém do Pará, cruzando rios lendários como o Tietê, Paraná, Uruguai, Prata e Paraguai — um trajeto de coragem e amor ao Brasil.

Quando a pequena embarcação “Carlos de Campos” atracou no porto de Cáceres, a cidade parou para receber os jovens aventureiros. O jornal A Rua, de 1928, registrou o entusiasmo dos moradores, que viam na façanha dos paulistas um exemplo do espírito bandeirante e da força da navegação fluvial.

O então Intendente-Geral de São Luiz de Cáceres, Dr. Leopoldo Ambrósio Filho, escreveu em homenagem aos navegantes:

“Aos heroicos patrícios Luiz Senatore Neto e Antônio Senatore, que fazem o ‘raid’ fluvial São Paulo–Belém, os nossos melhores e mais ardentes votos de bons ventos, para que essa tão arrojada empresa tenha feliz término, para maior orgulho e grandeza do nosso Brasil.”

Herança viva nas margens do Paraguai



ree

Hoje, as grandes embarcações a vapor deram lugar aos barcos de pesca, às lanchas turísticas e às chalupas que cortam o rio Paraguai durante o Festival Internacional de Pesca Esportiva. Mas o encanto das águas permanece o mesmo.

Cáceres continua sendo um ponto de encontro entre a história e a natureza, onde o visitante pode sentir o sopro do passado ao navegar pelas mesmas águas que, um dia, levaram produtos, sonhos e desbravadores.

Conhecer essa parte da história é redescobrir as origens da cidade, que cresceu às margens do rio e que até hoje carrega em suas paisagens o reflexo da vida ribeirinha e do espírito aventureiro de seu povo.


Dica do Rota Cacerense: Para quem deseja reviver um pouco dessa história, nada melhor do que um passeio de barco pelo rio Paraguai ao entardecer. As águas calmas, o pôr do sol dourando o Pantanal e as histórias que ecoam das margens são um convite a viajar no tempo — pelas correntes que moldaram a alma de Cáceres.


Fonte: Fragmentos da história cultural de Cáceres (vol. I) Cuiabá: Carlini & Caniato, 2021

 
 
 

Comentários


bottom of page