De Rua da Manga a Quintino Bocaiúva: a rua que guarda a memória de Cáceres
- rota cacerense
- 15 de ago.
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Quem caminha hoje pela Rua Quintino Bocaiúva, no centro de Cáceres, talvez nem imagine que este endereço, tão tradicional, ainda seja chamado carinhosamente pelos moradores mais antigos de “Rua da Manga”. Mais do que um apelido resistente ao tempo, o nome carrega séculos de história, revelando transformações urbanas, sociais e culturais da cidade.
A origem do nome: mangueiro e porcos pelas ruas
O título curioso de Rua da Manga surgiu em função de um mangueiro de porcos que existia na região. Durante muito tempo, esses animais não eram criados apenas em currais, mas também nos quintais das residências — e até mesmo soltos pelas ruas. Assim, o espaço ficou conhecido pela atividade, reforçando a identidade popular da cidade, onde os nomes das vias nasciam do cotidiano dos moradores.

Porto da Manga: porta de entrada e saída da cidade
Antes mesmo da inauguração oficial do porto em 1928, as embarcações que movimentavam Cáceres atracavam no Porto da Manga, de frente para a igrejinha que existia na baía. Era dali que partiam vapores, lanchas e paquetes rumo a Corumbá, retornando com mercadorias vindas da Europa: tecidos finos, cristais, pianos e indumentárias que rapidamente eram incorporados às casas das elites locais.
Esse porto, que mais tarde deu lugar à atual Praça Barão do Rio Branco (1935), fez da Rua da Manga um ponto estratégico, movimentado por comércios, moradias e pelas boiadas que passavam, a ponto de também ser apelidada de “Fura-Bucho”, em referência às brigas que aconteciam por lá.
Modernização e novos nomes
Com o avanço da urbanização nas primeiras décadas do século XX, a cidade buscava modernizar sua imagem. Os antigos nomes populares das ruas, considerados rústicos ou “pouco apropriados”, começaram a ser substituídos por personagens políticos de destaque. Foi assim que a Rua da Manga se tornou Quintino Bocaiúva, em homenagem ao jornalista e político do período da Proclamação da República.
Ainda assim, a força da memória popular prevaleceu: até hoje, muitos moradores se referem a ela pelo nome original, como forma de preservar a identidade local.
Caminhar pela memória
Percorrer a Rua da Manga é viajar no tempo. Foi uma das mais extensas e antigas ruas da antiga Vila Maria, abrigando residências importantes e comerciantes, como Manoel Pereira de Souza, que já em 1864 pagava imposto sobre seu imóvel no local. Hoje, para além da movimentação urbana, o espaço guarda histórias de resistência, modernização e, sobretudo, da vida cotidiana de gerações de cacerenses.
Um convite ao turista
Para quem visita Cáceres, conhecer a história da Rua da Manga é descobrir muito mais do que um simples endereço. É mergulhar nos tempos em que porcos circulavam soltos, embarcações chegavam com novidades da Europa e a cidade se reinventava diante das mudanças do mundo moderno. Um passeio pela Rua Quintino Bocaiúva é, sem dúvida, um convite para enxergar além das fachadas, encontrando nas ruas a memória viva de uma Cáceres que ainda respira tradição.
Referências:
Silva, Giuslane Francisca da. Nas linhas dos jornais: discursos de modernização/modernidade em Cáceres/MT nas primeiras décadas do século XX.
Montecchi, Acir Fonseca; Araújo, Maria do Socorro de Sousa; Cerezer, Osvaldo Mariotto (orgs.). Tramas de memórias nos fios da História de Cáceres. Cáceres: Editora UNEMAT, 2023.
Pinho, Rachel Tegon de. Cáceres: olhares sobre a tessitura urbana de São Luiz de Cáceres.








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