Do Abate ao Patrimônio: A História do Matadouro Municipal de Cáceres
- rota cacerense
- 9 de set.
- 2 min de leitura

Poucos locais em Cáceres carregam uma memória tão significativa quanto o antigo Matadouro Municipal, símbolo de um período de transformações urbanas, sanitárias e sociais da cidade.
Origem e Construção
A construção do Matadouro Público foi autorizada em 17 de março de 1918, durante um momento em que as autoridades municipais e os médicos sanitaristas buscavam melhorar as condições de higiene nas cidades brasileiras. A obra foi concluída rapidamente, sendo realizada pelo Mestre Bexiga, e inaugurada em 1º de janeiro de 1919, sob a administração do então intendente Adolpho Joseti.
O prédio foi erguido em um ponto estratégico, próximo ao Rio Paraguai, mas afastado do perímetro urbano, atendendo às recomendações sanitárias da época, que previam que locais de abate deveriam se distanciar das áreas residenciais.
Regulamentação e Higiene
O Matadouro Municipal operava seguindo um rigoroso regulamento, que refletia a preocupação com a saúde pública. No artigo 11º, por exemplo, destacavam-se regras como:
Proibição da entrada de pessoas alcoolizadas, de "maus costumes" ou portadoras de doenças contagiosas.
Obrigatoriedade de manter os princípios de higiene, incluindo a proibição de escarros no chão, dejetos nos arredores e a entrada de animais que não fossem destinados ao abate.
Essas normas mostravam o esforço da época em alinhar Cáceres às práticas modernas de saúde e segurança alimentar.
Do Açougue ao Controle da Carne
Antes da construção do Matadouro, o abate de bois acontecia dentro da cidade, muitas vezes nas madrugadas. A carne era vendida em pequenos açougues conhecidos como “gancho”, onde os animais eram abatidos na hora.
A moradora D. Joana de Albuquerque, em depoimento registrado em 2006, relembrou com saudosismo essa prática:
“A carne era comprada de um açougue, chamava-se gancho, que era um arame grosso, virado assim, de madrugada ia no açougue, já vendia a carne e vinha com ele lá; assim que era, mas o boi era abatido na hora, era uma carne gostosa. Diziam que não tinha a higiene de hoje, mas ninguém morria (risos).”
Com o Matadouro, o município passou a controlar a qualidade da carne oferecida à população, garantindo mais segurança alimentar e adequação aos padrões sanitários.
Reformas e Desativação
O Matadouro passou por uma reforma significativa em 1922, durante o governo do Capitão João de Albuquerque Nunes, reforçando sua importância na estrutura da cidade.
Funcionou ativamente até 1978, quando, no processo de modernização da cidade, optou-se por sua desativação e posterior demolição parcial.
O Que Restou Hoje

Hoje, no local funciona a Colônia de Pescadores Z-2, na Rua Senador Azevedo, no Centro. A fachada do antigo prédio foi preservada, mantendo viva parte da história e servindo como referência da memória coletiva da cidade.
Patrimônio Histórico
Mais do que um simples prédio, o Matadouro Municipal representou um avanço no cuidado com a saúde pública e um passo importante na urbanização de Cáceres. Para moradores e turistas, conhecer essa história é compreender como a cidade se desenvolveu e como tradições e práticas foram substituídas por novas formas de organização social.
O prédio, mesmo transformado, segue sendo patrimônio da memória coletiva da cidade, lembrando-nos de um tempo em que modernidade e tradição caminhavam lado a lado.








Comentários