Restaurante Mini Praia: um mergulho de saudade na história de Cáceres
- rota cacerense
- 14 de ago.
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Houve um tempo em que a Baía do Malheiros, em pleno coração de Cáceres, guardava um dos cenários mais encantadores da vida social e cultural da cidade: o Restaurante Mini Praia. Quem viveu sua época de ouro guarda até hoje a lembrança das travessias de batelão, das rodas de amigos em mesas de madeira, da culinária pantaneira servida com fartura, e das histórias que se entrelaçaram em cada detalhe desse espaço que marcou gerações.
Mais do que um restaurante, o Mini Praia se transformou em um símbolo da boemia, do lazer e da própria identidade cacerense, tornando-se palco de encontros, festas, memórias afetivas e até projetos que ajudaram a transformar a cidade.
O nascimento de um ponto inesquecível
Por volta de 1967, o construtor de pontes Natalino Castrillon, integrante de uma família de empreendedores que muito colaborou para o desenvolvimento local, decidiu erguer às margens da Baía do Malheiros um restaurante que batizou de Mini Praia — referência à famosa prainha do Daveron.
Logo em sua inauguração, o espaço se destacou. Cercado pela beleza natural e com cardápio baseado em peixes frescos, rapidamente caiu no gosto dos moradores. Advogados, juízes, militares, empresários, famílias inteiras — todos se encontravam no local que, em pouco tempo, virou o “point” de Cáceres.
Em 1970, o empreendimento passou para as mãos do gaúcho Louristan Carlos Raymundi, que, ao lado do casal cacerense Waldemar e Olga Araújo, deu ainda mais identidade ao Mini Praia, tornando-o referência na culinária pantaneira.
O palco das grandes histórias
O restaurante não era apenas um ponto gastronômico, mas também um cenário de acontecimentos memoráveis.
Artistas famosos como Benito de Paula, Milionário e José Rico, Mato Grosso & Mathias passaram por ali, entre uma apresentação e outra na Exposição Agropecuária.
A travessia de batelão para chegar ao outro lado da baía, após a mudança de endereço, virou um ritual mágico: poucos minutos de balanço nas águas que rendiam sorrisos e lembranças inesquecíveis.
Histórias curiosas, como a captura de um enorme jaú peba de quase 80 quilos, ou de jacarés que se aproximavam atraídos pela ceva de peixes, transformavam o local em um verdadeiro espetáculo da natureza.
Para além das histórias pitorescas, o Mini Praia foi também um espaço de encontros que mudaram o destino de Cáceres. Conversas regadas a cerveja gelada e lambaris fritos resultaram, por exemplo, nas primeiras ideias que levariam à criação do curso superior na cidade, embrião da atual UNEMAT.
Entre encantos e despedidas
Durante três décadas, o Mini Praia sobreviveu às cheias, à mudança de donos e às transformações de Cáceres. Passaram por sua administração nomes como Luiz Antônio Raymundi, Maria Candelária, Aristides Paraguai e Dulcema, todos mantendo viva a tradição de servir o melhor peixe da região em um ambiente que misturava simplicidade e charme pantaneiro.
Mas nem só de festa foi feita a trajetória do Mini Praia. Em meados dos anos 90, uma fase de declínio trouxe tentativas de revitalização, até que, em 2000, uma decisão do Ministério Público determinou a desativação definitiva do espaço, que viria a se tornar Reserva Biológica da Mini Praia, por força da Lei nº 1.646/2000.
Assim, de maneira abrupta, um dos capítulos mais afetivos da história cacerense chegava ao fim.
Saudade que atravessa gerações
O Mini Praia não existe mais fisicamente, mas continua vivo na memória de quem viveu suas tardes ensolaradas, suas noites de música, as rodas de bozó, os encontros de amigos e a sensação única de estar em um espaço que era, ao mesmo tempo, rústico e acolhedor.
Ali, negócios foram fechados, amizades foram fortalecidas, histórias de amor nasceram e a cultura pantaneira se serviu à mesa em forma de peixe fresco e cerveja gelada.
Hoje, resta a saudade. Mas uma saudade boa, daquelas que fazem sorrir, porque o Mini Praia foi mais do que um restaurante: foi um pedaço da alma de Cáceres.
Fontes: “Restaurante Mini Praia, eco de saudade através do tempo”, de Antonio Costa, publicado no site Zakinews em 13/12/2020; e “Entre o ensino e a pesquisa: o ProfHistória como campo de produção para o ensino de história”, organizado por Osvaldo Mariotto Cerezer, Editora UNEMAT, 2021.




























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